Comentários das Liturgias
SOLENIDADE DE SANTA MÃE DE DEUS, MARIA
SOLENIDADE DE SANTA MÃE DE DEUS, MARIA
Nm 6,22-27 / Sl 66 / Gl 4,4-7 / Lc 2,16-21
Ao final da Oitava do Natal, a liturgia nos convida a celebrar a maternidade divina de Maria, contemplando o Menino Jesus nos braços de sua Mãe Santíssima. Esta solenidade coincide com a transição do ano civil, e assim, a liturgia nos apresenta Maria como exemplo para vivenciar esse momento de passagem para um novo ano. Em Maria, que guardava e meditava todos os fatos em seu coração, reconhecemos a atitude de fé, de quem busca o sentido dos acontecimentos no plano de Deus. Ao final de mais um ano, essa atitude de Maria deve nos orientar nossa meditação sobre qual o sentido de cada fato que vivenciamos neste ano e que sentido daremos para cada momento do novo ano.
Ao meditarmos sobre o tempo vivenciado e sobre o futuro que se abre, devemos ir além das aparências e buscar a misteriosa presença de Deus em nossa história. Em cada momento deste ano que estamos encerrando, Deus se fez presente. E será que nós conseguimos perceber essa presença amorosa de Deus, ou nos sentimos únicos proprietários da nossa história, determinando seu rumo somente a partir de nosso mundo particular?
Finalizar um ano e iniciar um novo ano exige a atitude de fé, de reconhecer que Deus é o Senhor do tempo e da história. Ele é o mesmo, ontem, hoje e sempre. Ele é o Alfa e o Ômega. E nós, somos parte integrantes dessa eternidade que se faz história no mistério da encarnação. Não estamos isolados no universo e nem podemos inventar uma história paralela. A partir da nossa fé, devemos adequar a nossa história pessoal ao plano que Deus tem para toda a humanidade. Dessa forma caminhamos serenos e seguros, pois sabemos que os pequenos percalços que enfrentamos, são apenas solavancos, mas que não nos tiram do rumo certo para o qual caminhamos.
São Paulo nos diz que o mistério da encarnação se deu na plenitude do tempo. O tempo adquire plenitude quando está repleto da graça de Deus. Muitas vezes dizemos que o tempo passa muito depressa, e que não percebemos que o ano já está terminando. O tempo cronológico é objetivo e não se altera. Já a percepção subjetiva do tempo não se mede pelo relógio, mas somente pelo coração; é o tempo dos sentimentos e do sentido de vida. Infelizmente, atualmente ocupamos o nosso tempo com eventos sem importância, por isso não conseguimos frear o tempo interno. São uma série de eventos sucessivos, sem importância, que não nos marcam, que não nos fazem crescer. Estamos ocupados, mas não envolvidos. Desgastamo-nos, mas não nos realizamos.
Uma forma de prolongarmos nosso tempo interno é reservarmos espaço na agenda para eventos repletos de significado e de sentimento. Especialmente, precisamos tornar nosso tempo mais humano e menos pragmático. Precisamos vivenciar melhor nossos relacionamentos, dar atenção maior à família, aos amigos e, acima de tudo, a Deus. São estes momentos simples, ao alcance de todos, que tornam a nossa vida mais significativa e o nosso tempo mais repleto de sentido. Se vivermos intensamente cada momento, sem pressa, saboreando o diálogo amoroso, os gestos de cuidado, veremos que o nosso tempo será estendido, porque teremos vivido de forma mais plena, porque com estes gestos, permanecemos em comunhão com Deus.
É na busca de sentido para cada momento de nossa vida no encontro com Deus e com seu projeto que experimentaremos sua paz. Essa é a única bênção que necessitamos para o Ano Novo.