Comentários das Liturgias

1º DOMINGO DA QUARESMA

1º DOMINGO DA QUARESMA
Dt 26,4-10 / Sl 90/ Rm 10,8-13 / Lc 4,1-13

tentacaoJesusA espiritualidade quaresmal do ano C revela, de modo particular, a misericórdia divina, recordando a presença de Deus em nossa história pessoal e social, no intuito de nos resgatar do pecado e nos fazer participar da festa da Vida Nova.


O primeiro Domingo da Quaresma nos traz sempre a meditação sobre as tentações que Jesus enfrentou e, com a força do Espírito Santo, venceu. O deserto é um lugar teológico, que representa o espaço de encontro com Deus, livre de toda materialidade construída pela cultura humana, e também o lugar das adversidades que enfrentamos em nossa vida, recordando que nos momentos de maior dificuldade as tentações se tornam mais difíceis de serem vencidas. Os quarenta dias indicam um tempo específico, que pode ser um momento na vida de Jesus, mas também pode indicar sua vida toda; o certo é que Jesus lutou incessantemente para não abandonar o caminho indicado pelo Pai. As três tentações representam todas as formas de tentação que Jesus enfrentou, especificamente o perigo de usar o seu poder divino, enquanto Deus Encarnado, em proveito próprio e não em vista de sua missão salvífica.


A primeira leitura neste tempo quaresmal convida-nos a meditar sobre a presença de Deus em diferentes momentos da Antiga Aliança, revelando-se como Aquele que vem ao encontro de Seu povo para trazer a libertação. O texto do Deuteronômio é uma profissão de fé, que os israelitas faziam ao depositar no Templo a oferta para Deus. A oração feita ao entregar os primeiros frutos da colheita é uma síntese da revelação de Deus na história de seu povo, desde o chamado de Abraão, a ida ao Egito, o período de escravidão, a intervenção divina realizando a libertação e concedendo a Terra ao seu povo. A oferta entregue no Templo era um gesto de gratidão do povo a Deus, reconhecendo que a terra, de onde brotavam os frutos, pertencia ao Senhor, e os frutos eram o sinal visível da bênção divina derramada continuamente.


Somos chamados a compreender que a fé no Deus bíblico, a qual recebemos em nosso batismo, não é uma fé abstrata, nem é um conjunto de teorias, mas uma fé que se manifesta na história, na vida. Deus age no concreto da história e é no concreto da vida que somos chamados a viver essa fé. E na Nova Aliança, essa fé adquire ainda mais concretude histórica, pois Deus se faz carne e habita entre nós; e, ainda mais, no mistério de sua morte e ressurreição, realiza a salvação de toda a humanidade.


São Paulo ensina que essa fé, vivenciada no coração e professada com palavras é garantia da salvação. Na cultura judaica, o coração é o centro das decisões, é o núcleo ético da pessoa e, por isso, crer com o coração significa que a fé interfere diretamente nas decisões e escolhas; e a palavra, para o judeu, era a expressão da interioridade da pessoa, o que significa que a fé professada em palavras é a fé sincera que expressa os pensamentos mais profundos. Não se trata, pois, de uma fé intimista e individualista, e nem uma fé de palavras vazias, mas a fé que constitui a estrutura existencial de cada pessoa e que se expressa em seus atos concretos de justiça e de verdade. Esta fé, concretizada na história de cada um e na história comum, nos sustenta na luta diária contra as tentações que podem nos afastar do caminho de Deus.

 

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