Comentários das Liturgias
13° Domingo do Tempo Comum
13º DOMINGO DO TEMPO COMUM
1Rs 19,16b.19-21 / Sl 15 / Gl 5,1.13-18 / Lc 9,51-62
O Evangelho deste domingo relata que Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém. Tinha consciência de que era preciso anunciar o Reino também no centro do poder, apesar das consequências que essa decisão acarretaria. Essa firmeza de Jesus é um convite para que o sigamos pelo caminho, sendo capazes de enfrentar as dificuldades que forem surgindo e também a capacidade de nos libertar de todos os apegos que nos impedem de caminhar ao Seu lado.
Logo no início da caminhada, Jesus e os discípulos enfrentam a rejeição dos samaritanos, que não os colhem, por estarem a caminho de Jerusalém. A discórdia entre judeus e samaritanos era histórica, desde a destruição da Samaria em 722 aC, quando os assírios trouxeram estrangeiros para habitar a região, gerando uma miscigenação. Os samaritanos eram considerados inferiores, por não conservar a pureza da tradição judaica, e por isso não acolhiam os judeus. Jesus, mesmo rejeitado, impede que os discípulos reajam com violência, ensinando a responder com amor ao mal sofrido.
Em seguida, Jesus revela que o discipulado exige a liberdade plena, sem apegos que impeçam a caminhada. São Lucas reúne três apegos apontados por Jesus, que simbolicamente indicam todos, dos quais o discípulo necessita se libertar. Em primeiro lugar, o apego às seguranças materiais. Ao afirmar que não tem onde reclinar a cabeça, Jesus mostra que para caminhar ao seu lado é preciso colocar a segurança somente em Deus e não nos bens materiais. A segunda exigência implica em desapegar-se dos costumes e tradições; ao exigir que o discípulo abra mão de sepultar seu pai, um dever fundamental na cultura judaica, Jesus ensina que, para segui-lo, é preciso estar preparado para romper com todos os laços culturais, até mesmo os mais tradicionais. E finalmente, o terceiro desapego refere-se aos afetos, inclusive os mais íntimos, dos relacionamentos familiares. Jesus não está desmerecendo a família, mas mostrando que para caminhar com Ele, é preciso colocar o amor a Deus acima de todos os vínculos afetivos.
Ao citar a mão no arado, Jesus faz recordar o gesto de desapego radical de Eliseu, ao ser chamado para ser profeta. Ao receber o manto de Elias, que simboliza a transmissão da missão profética, Eliseu rompe com a estrutura na qual estava inserido. A refeição preparada com a carne dos bois, assada com a madeira do arado, representa o início da vida nova, totalmente consagrada ao Senhor.
Essa consagração total implica a vivência plena da liberdade, a qual nos foi concedida por Jesus, em sua morte e ressurreição, como ensina Paulo aos gálatas. Orientando a comunidade a não se deixar escravizar pelos costumes judaicos, que estavam sendo impostos pelos cristãos de origem judaica aos cristãos de origem pagã, Paulo recorda que foi para a liberdade que Cristo nos libertou, e que a única lei a ser seguida é a prática do amor.
Apesar da liberdade ser um dos valores defendidos pela modernidade, vemos que atualmente muitas pessoas ainda se deixam escravizar. O homem moderno, querendo afirmar-se livre dos valores transcendentes, deixou-se escravizar pela estrutura material e social que construiu. Nesse sentido, vemos pessoas escravizadas pelo desejo de consumo, pelo ritmo alucinado de vida, pelo desespero na busca do corpo perfeito ou da eterna juventude, e até mesmo por dependências químicas. A nós, que estamos inseridos nessa realidade de escravidões materiais, Jesus convida a viver a plena liberdade, desapegando-nos de tudo o que nos escraviza, para caminhar livremente a Seu lado.