Comentários das Liturgias
19º DOMINGO DO TEMPO COMUM
19º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Sb 18,6-9 / Sl 32 / Hb 11,1-2.8-12 / Lc 12,32-48
O ser humano possui uma dignidade sublime, criado à imagem e semelhança de Deus, redimido pela morte e ressurreição de Jesus, santificado pelo Espírito e participante da Vida Nova do Reino de Deus. Entretanto, quando o homem se deixa dominar pela autossuficiência e rompe seu vínculo espiritual com Deus, deixa-se levar pela ilusão de que é o senhor de sua vida e que pode fazer o que bem entender, sem assumir as consequências de seus atos. Quando isso acontece, perde o tesouro recebido de Deus e deixa de realizar a missão que o Senhor lhe confiou.
Mostrando o quanto importante somos aos olhos de Deus, Jesus revela que, apesar de nossa pequenez, recebemos do Senhor um grande tesouro: o Reino de Deus, isto é, a comunhão plena com Ele e Sua graça. Para tomarmos posse dessa graça, devemos conservar o nosso coração voltado para Deus, pois onde está o nosso tesouro, aí estará o nosso coração. Ou seja, para aquilo que consideramos mais importante em nossa vida, direcionamos nosso empenho, nossos esforços.
Nesse sentido, a Carta aos Hebreus recorda-nos a história de fé de Abraão e Sara, que acreditaram e colocaram em Deus sua esperança. Acolher o Reino de Deus, como o que há de mais importante, deve consistir a vida de quem verdadeiramente tem fé. Assim, ter fé é já possuir o que ainda se espera e de ter convicção do que não se vê. Ou seja, ter fé é viver em Deus, Senhor do tempo e da história, do presente e do futuro, fonte de todos os bens e dons que necessitamos, e luz que esclarece nossa inteligência e nos revela a verdade sobre o mundo. Ter fé é, não somente aceitar a existência de Deus, mas acolher a graça divina como o bem mais precioso que existe.
Da mesma forma, o livro da Sabedoria recorda ao povo que vivia no estrangeiro, as maravilhas que Deus realizara em sua história, e de modo especial a noite da libertação, na qual recebeu a graça de ser salvo por Deus da escravidão no Egito. A consciência de tamanha graça deve inspirar o povo a levar uma vida de vigilância, para permanecer na santidade, mesmo vivendo no meio de pessoas sem fé. Precisamos estar vigilantes, para que não nos afastarmos do que realmente é importante, que é Deus e Seu projeto de vida e salvação.
Jesus utiliza a parábola do empregado que recebe a tarefa de cuidar da casa e dos demais empregados, para nos mostrar o quanto somos especiais aos olhos de Deus, mas também para nos alertar sobre a responsabilidade que temos diante do Senhor. Ele nos concede Sua graça, dando-nos o dom da vida e tantos outros dons, mas espera que usemos de tudo isso para que o Reino de amor, justiça e paz se realize. Não podemos utilizar nossas qualidade somente em proveito próprio, reduzindo nossa existência à satisfação de desejos egoístas, como se fôssemos senhores absolutos da nossa própria vida e da vida dos irmãos.
Devemos lembrar que tudo em nossa vida e nossa história pertence a Deus e que somos administradores a quem Ele confiou uma missão. Isso é uma grande alegria, mas também uma grande responsabilidade. Por isso Jesus nos alerta de que, a quem muito foi dado, muito será exigido. O fato de sermos agraciados por Deus com dons implica o compromisso de nos colocarmos a seu serviço, colaborando na edificação de Seu Reino.