Comentários das Liturgias
SOLENIDADE DO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - Missa da Noite
SOLENIDADE DO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - Missa da Noite
Is 9,1-6 / Sl 95 / Tt 2,11-14 / Lc 2,1-14
A festa do Natal nos convida a ir ao encontro do menino Jesus que nasceu em Belém, fazendo a experiência do profundo amor de Deus por nós. Contemplando a simplicidade da manjedoura, entramos em comunhão com o Altíssimo e Todo-poderoso, que vem ao encontro da humanidade na pequenez de uma criança. Com isso, o Senhor revela seu projeto salvífico, que segue na contramão da mentalidade que predomina no coração humano. A fragilidade da criança nascida em Belém mostra que Deus não se apresenta de forma grandiosa e imponente, mas se faz pequeno para alcançar a vida daqueles que o mundo diminui.
O acontecimento é grandioso e divide a história da humanidade, pois o Senhor vem ao nosso encontro. Ele é o menino, anunciado com alegria pelo profeta Isaías, que veio para dissipar todas as trevas com sua luz maravilhosa, trazendo a verdadeira felicidade. Ele é o Conselheiro Admirável, detentor da sabedoria divina, que vem para reorientar a nossa história; não será mais uma história marcada pelo pecado, mas pela graça e pelo amor. Ele é o Deus Forte, cujo poder não oprime e nem escraviza, mas traz a libertação de todas as formas de opressão, sejam elas materiais ou espirituais. Ele é o Pai dos tempos futuros, pois abre um novo horizonte para todos os homens e mulheres, sem exclusão, fazendo com que a esperança não decepcione, e nossos passos sejam marcados pela certeza de caminharmos para um novo tempo. Ele é o Príncipe da Paz, pois vem para instaurar um reino novo, em nada semelhante aos reinos humanos, marcados pelo luxo, pela ostentação e pela exploração; seu reino é o reino da paz, que significa vida plena para todas as pessoas.
Entretanto a forma que Ele escolheu para vir a nós é um convite para revermos a maneira como conduzimos a nossa vida e a nossa história. Enquanto a grande maioria esperava a vinda do Salvador de uma forma grandiosa e fantástica, Ele escolheu o caminho da humildade e da simplicidade, nascendo em meio a pobreza, na inexpressiva cidadela de Belém. Não escolheu nascer em Jerusalém, lugar do poder, da riqueza, do luxo, sustentados pelos pesados impostos, arrancados do povo por meio da violência. Escolheu nascer em Belém, em meio aos pobres pastores, considerados impuros e por isso excluídos pela cultura religiosa da época. Deus sabia que, se tivesse nascido em Jerusalém, ninguém perceberia sua presença e nem acolheria o anúncio dos anjos. Por isso escolheu nascer em Belém, no meio de pessoas humildes e despojadas de bens materiais, mas com o coração aberto para receber a graça divina.
Comemorar o Natal em meio a nossa cultura materialista e consumista exige um grande esforço de fé, para não desviarmos o nosso olhar do verdadeiro sentido desta celebração. Hoje nossos olhares são direcionados para as lojas e os centros de comércio, repletos de luzes coloridas e de enfeites encantadores. Estes lugares de consumo são a Jerusalém de hoje, na qual o Senhor se recusa a nascer. Nesses lugares encontramos bens materiais, mas não o Menino Jesus. Devemos tomar cuidado para que nosso coração não se desvie para a Jerusalém de hoje e nos recusemos a caminhar até Belém, por causa da sua simplicidade. Precisamos ter um coração simples e acolhedor, como dos pastores, para ouvir o anúncio dos anjos de Deus: nasceu para vocês o Salvador. Que possamos tornar o nosso coração uma manjedoura espiritual, para acolher o Príncipe da Paz!