Comentários das Liturgias
4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Dt 18,15-20 / Sl 94 / 1Cor 7,32-35 / Mc 1,21-28
Infelizmente ainda no século XXI, muitas pessoas permanecem dominadas sob as mais variadas formas de opressão. Há pessoas escravizadas por sistemas políticos e econômicos, pessoas escravizadas por vícios e dependências, por modismos e novidades culturais e até mesmo por doutrinas religiosas. Diante disso devemos recordar que nosso Deus é libertador e rejeita todas as estruturas políticas, econômicas, culturais e religiosas que negam a possibilidade do ser humano viver na liberdade de filho de Deus.
São Marcos nos apresenta o primeiro gesto realizado por Jesus em sua missão libertadora, depois de convocar o povo a converter-se para acolher o Reino de Deus e de chamar seus primeiros discípulos. Jesus vai a uma sinagoga, lugar de encontro dos judeus em torno da Palavra de Deus, e ali encontra um homem escravizado por um espírito mau que grita, questionando se Ele veio para destruí-los. Essa pergunta no plural indica que não se trata de uma pessoa isolada, mas é o símbolo de uma mentalidade que via em Jesus uma ameaça ao seu projeto de vida. O fato de que o homem estava na sinagoga indica ser alguém que aceitava a Palavra de Deus e que a conhecia muito bem, pois chama Jesus de "Santo de Deus", denominação atribuída a Eliseu, profeta do Antigo Testamento.
No início e o final do episódio encontramos a afirmação de que Jesus ensinava como quem tem autoridade, pois Suas palavras se fundamentavam na íntima comunhão com o projeto do Pai. Jesus liberta aquele homem com a força de sua Palavra, revelando ser o verdadeiro profeta do Senhor, concretizando as palavras de Moisés, no livro do Deuteronômio. Ao orientar o povo sobre como deveriam viver na terra prometida, Moisés ensina que cabe ao profeta anunciar a Palavra de Deus e permanecer sempre fiel ao Seu projeto de vida e amor. Porém, a prática profética de Jesus desperta a reação negativa daquele homem, que se sente ameaçado. Essa atitude é compreensível considerando o quanto podemos nos acomodar em uma situação de escravidão, rejeitando o convite divino para uma vida nova.
O ensinamento de Jesus era novo e dado com autoridade, não como o dos mestres da Lei. Isso esclarece que o Seu gesto libertador foi dirigido a todas as pessoas que, embora estivessem em contato com a Palavra de Deus, continuavam sob o regime da escravidão, especificamente dos preceitos legalistas defendidos pelos fariseus. A vivência da fé havia se tornado um mero cumprimento de preceitos, cobrado com rigor pelos Mestres da Lei, excluindo quem não os observava. Jesus, ao contrário anuncia o amor de Deus, oferecido sem distinção, para que todos vivam com dignidade.
Devemos pois, viver a alegria do Evangelho de Jesus sem nos deixar escravizar pelas estruturas deste mundo. Nesse sentido entendemos a exortação sobre a vida matrimonial que São Paulo faz à comunidade de Corinto. Esta refletia os conflitos culturais da cidade, na qual coexistia um laxismo moral e grupos que rejeitavam a sexualidade. Diante dessa realidade, Paulo exorta a colocar Deus acima das preocupações deste mundo, ensinando que é um valor viver a graça do matrimônio, como também a opção em renunciar a vida matrimonial para servir unicamente ao Senhor.
Jesus veio nos trazer a libertação plena, material e espiritual, e por isso devemos acolher e viver Sua Palavra, buscando ter discernimento e equilíbrio diante dos preceitos políticos, econômicos, culturais e religiosos que nos são apresentados nos ambientes em que vivemos, não deixando que nada nos escravize.