Comentários das Liturgias

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Jl 2,12-18 / Sl 50 / 2Cor 5,20 - 6,2 / Mt 6,1-6.16-18

quartaFeiraDeCinzasO tempo da quaresma é um tempo de intensa espiritualidade, em preparação para a celebração da Páscoa. É marcado pela alegre expectativa de festejar a vitória de Cristo, para a qual é preciso preparar-se dignamente, o que muitas vezes exige mudanças em nossa vida. Mas, quando a caminhada quaresmal é compreendida somente como um tempo de penitência e de sacrifícios, assume um caráter austero, perdendo suas características de reconciliação e de renovação espiritual da nossa vida e da nossa história.


O profeta Joel nos convida a voltar para o Senhor. A experiência da volta exige a consciência de que estávamos em um lugar ideal, abandonamos tal posição e que reconhecemos ser necessário retornar ao lugar de onde não deveríamos ter saído. Esse lugar é a comunhão com o amor de Deus, que abandonamos quando decidimos caminhar sozinhos, confiando somente em nossas capacidades e em nossos projetos. Todas as vezes que o ser humano decide caminhar sozinho é porque seu coração se encheu de orgulho e arrogância, e que já não sente necessidade da graça e do amparo de Deus. Mas, para voltar para Deus é preciso rasgar o coração, como diz o profeta e não somente as vestes. A volta deve partir de uma escolha interior e não meramente de gestos exteriores. É preciso que o coração esteja disposto a abrir-se para a graça divina.


Essa volta para Deus é marcada pela alegria da reconciliação, como nos convida São Paulo. Também essa é uma experiência de retomar uma situação ideal que fora abandonada. Re-conciliar significa conciliar novamente, retomar a experiência de conciliação, de comunhão e de harmonia que existia e que fora perdida. O pecado é a experiência de ruptura da unidade, de quebra da comunhão. O pecado destrói a harmonia em nosso coração, quando alimentamos sentimentos e projetos que nos tornam menos humanos; destrói a harmonia com o irmão, quando praticamos o mal ou deixamos de fazer o bem; destrói a harmonia com a criação, quando nos tornamos meros aproveitadores e destruidores, e não cuidadores da natureza; destrói a harmonia com Deus, quando esquecemos nossa condição de criaturas e queremos assumir o controle de tudo, como se fôssemos deuses.


E Jesus, no Evangelho, nos apresenta três exercícios espirituais que nos ajudam nessa caminhada de volta para o amor de Deus, nessa experiência de reconciliação. A oração nos coloca em sintonia com Deus, numa atitude humilde de escuta da Palavra do Senhor que orienta nossos passos, e de entrega confiante de nossas fraquezas e necessidades. O jejum é uma experiência de encontro com nosso próprio eu, buscando um maior equilíbrio interior por meio do autocontrole e da libertação frente a todas as dependências; jejuar significa libertar-se de tudo aquilo que nos escraviza e nos vicia. E finalmente a esmola é a forma de nos reconciliarmos com a natureza e com o irmão, especialmente o mais necessitado, reconhecendo que somos membros da grande família dos filhos de Deus, responsáveis pela criação. Dar esmola é fazer a experiência da caridade generosa, que deve ser o resultado do equilíbrio entre o que o irmão necessita e o que podemos oferecer. Quanto mais possuímos e quanto mais o irmão necessita, mais generosa deve ser a nossa esmola.


Na alegre expectativa de festejarmos a ressurreição do Senhor, tornemos nossa caminhada quaresmal uma sincera volta para Deus, fazendo a experiência de uma profunda reconciliação, que nos torna cada vez mais semelhantes ao Senhor Jesus que nos salvou.

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