Comentários das Liturgias

FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
Nm 21,4b-9 / Sl 77 / Fl 2,6-11 / Jo 3,13-17

orando cruzCom a festa da Exaltação da Santa Cruz, a Igreja convida-nos a contemplar a cruz de Cristo com o olhar da fé, reconhecendo nela a manifestação do amor de Deus. A cruz, enquanto instrumento de tortura e de morte, é sinônimo de dor e fruto da injustiça, mas quando abraçada por Jesus, revela a plenitude do amor, que se faz oferta gratuita de si mesmo. Segundo a tradição judaica, a cruz era sinal de maldição divina e dentro da cultura greco-romana, era sinal de tortura e de castigo infligido aos piores criminosos. As comunidades cristãs, porém, deram à cruz um sentido novo a partir do gesto de Jesus, que transformou a cruz em um instrumento de salvação e de vida nova.


Jesus revela que a salvação concedida por Deus à humanidade passa pelo gesto salvífico da cruz enquanto manifestação de pleno amor. A vontade de Deus é de salvar toda humanidade num gesto de amor gratuito. De fato, Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho para que todos os que nele acreditam não morram, mas tenham a vida eterna. Jesus revela que Deus não quer condenar ou castigar aqueles que pecam, mas conceder a salvação.
E para concretizar esse projeto de salvação, Jesus não hesitou em trilhar o caminho da mais profunda humildade, como nos relata São Paulo, no hino cristológico da Carta aos Filipenses. Num primeiro gesto de humildade, Jesus esvaziou a si mesmo, abandonando a condição divina para assumir a nossa condição humana. E ainda mais, esvaziou-se plenamente, ao oferecer a própria vida no sacrifício da cruz.


Dialogando com Nicodemos, Jesus mostra que o projeto divino de salvar os pecadores já fora revelado no episódio das serpentes, narrado pelo livro dos Números. Este livro recorda diversos momentos vivenciados pelo povo de Deus, na caminhada no deserto rumo à terra prometida. Num momento de dificuldade, pela escassez de comida e de água, o povo murmurou contra Deus e, ao enfrentar um ataque de serpentes venenosas, perigo típico daquela região desértica, reconheceu seu pecado e sua ingratidão, suplicando o perdão divino. A resposta de Deus foi a misericórdia, que perdoou o povo e o libertou da morte.


A serpente de bronze, erguida no meio do acampamento, tornou-se o sinal da bondade divina que faz a vida acontecer. A salvação não vinha da serpente de bronze, mas da misericórdia de Deus, que concedia a libertação ao povo. Este devia humildemente levantar os olhos para o alto, à procura do Senhor e de seu amor salvífico. E, da mesma forma como a serpente foi transformada, de causa de morte para fonte de vida e de salvação, a cruz assumida por Jesus por amor à humanidade, foi transformada de instrumento de tortura e de morte, para instrumento de salvação e de manifestação da graça de Deus.


A cruz imposta sobre os mais fracos, resultado do pecado e da injustiça, é sempre um peso e fonte de sofrimento. A cruz assumida por amor adquire um novo sentido, de amor pleno e gratuito, que não mede esforços para salvar. A cruz de Cristo, que somos convidados a contemplar, revela que Deus não compactua com o pecado, mas o transforma em vida e libertação. Cabe a nós, cristãos, empenhar-nos continuamente para suprimir todas as cruzes da opressão e da injustiça, e assumir sempre com mais firmeza a cruz do amor, revelado em gestos de solidariedade, de justiça, de perdão, participando da missão salvífica de Cristo.

Liturgias Anteriores

Previous Next
  • 1
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
  • 6
  • 7
  • 8