Comentários das Liturgias
SOLENIDADE DE PENTECOSTES
SOLENIDADE DE PENTECOSTES
At 2,1-11 / Sl 103 / 1Cor 12,3b-7.12-13 / Jo 20,19-23
A solenidade de Pentecostes assinala o auge da espiritualidade pascal, pois nela celebramos a manifestação plena do Senhor, que em seu Santo Espírito se faz presente em todos os tempos e lugares. O Espírito Santo é, pois, a revelação da interioridade divina, a manifestação do agir de Deus, que não se fecha em si mesmo, mas se abre para gerar comunhão. O movimento de exteriorização divina, que tem seu princípio no ato criador, assume uma concretude histórica no mistério da encarnação, e alcança sua plenitude no envio do Espírito Santo.
Na efusão do Espírito Santo, Deus se manifesta como Aquele que age continuamente na história da humanidade para levar à plenitude a obra da criação e da salvação. Contemplando a ação do Espírito Santo, já não afirmamos que Deus criou, como um ato do passado, mas que Deus está continuamente criando. E da mesma forma, ao invés de afirmarmos que Deus nos salvou na morte e ressurreição de Cristo, afirmamos que Deus está nos salvando, no dinamismo contínuo de seu ato libertador. O Espírito Santo age na criação, renovando-a continuamente, como revela o Salmo 103, fazendo a vida aconteceu a todo instante. E age também em cada pessoa, num processo contínuo de santificação, nos tornando cada vez mais humanos.
A Palavra de Deus nos ajuda a aprofundar a espiritualidade da festa de Pentecostes enquanto manifestação do Espírito Santo, oferecido por Deus à sua Igreja reunida em comunhão, em vista da missão de edificar o Reino de amor, justiça e paz. Em primeiro lugar, tanto nos Atos dos Apóstolos, como no Evangelho de João, o Espírito Santo é um dom divino concedido à Igreja, ao Corpo de Cristo, e não a indivíduos isoladamente. A plenitude do Espírito Santo somente é experimentada na vivência da comunhão, no espírito de fraternidade. Isolado, fechado em si mesmo ninguém acolhe a plenitude de Seus dons. Jesus, ao conceder o dom do Espírito Santo, rompe o isolamento da comunidade, que estava com as portas fechadas por causa do medo, transformando-a em instrumento de salvação.
Outro aspecto importante é a renovação que o Espírito Santo gera naqueles que O acolhem. Os apóstolos, que eram pessoas medrosas e fechadas em si mesmas, são transformados em missionários capazes de se comunicar com todos, sem excluir ou fazer distinção entre as pessoas. Dessa forma, a mensagem que anunciavam era compreendida por todos que ouviam, apesar de serem de diferentes culturas. A semelhança de Deus, que se manifesta para se fazer presente em todos os tempos e lugares, quem acolhe o Espírito Santo se abre à missão de levar a graça de Deus a todos, sem exclusões.
E finalmente, São Paulo, na Carta aos Coríntios, nos mostra que os dons concedidos pelo Espírito Santo não devem ser usados somente para o benefício individual, mas em primeiro lugar em vista do bem comum. Da mesma forma que cada membro do corpo vive em função do corpo todo, assim também nós, se nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo, colocaremos nossos dons a serviço do bem comum, na construção de um mundo mais justo e solidário.
Esta festa da efusão da graça divina convida-nos a abrir a coração e deixar que o Espírito Santo realize em nós sua obra de santificação. Acolhendo seus dons divinos, deixamos que Ele renove nossa forma de ser, fazendo-nos superar o fechamento em nosso individualismo, para nos abrir à missão de edificar uma sociedade alicerçada na comunhão e na fraternidade.