Comentários das Liturgias
9º DOMINGO DO TEMPO COMUM
9º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Dt 5,12-15 / Sl 80 / 2Cor 4,6-11 / Mc 2,23 – 3,6
Dando continuidade à missão de manifestar o Reino de Deus, Jesus revela a dignidade que cada pessoa possui diante de Deus e que deve ser a motivação de toda lei. O contexto é a crítica feita pelos fariseus a Jesus, porque seus discípulos arrancavam trigo no dia de sábado. Interessante que não é questionado o ato de colher o trigo em um campo alheio, pois isso era permitido pela Lei, como vemos em Dt 23,25-26, que autoriza colher uvas e trigo para saciar a fome; o que os fariseus questionam é o fato de tê-lo feito em dia de sábado.
De fato, a lei da observância do sábado, enquanto dia do Senhor, era muito rigorosa. Era uma forma de conservar a identidade religiosa em meio à dominação estrangeira que há séculos oprimia o povo judeu. Entretanto, essa rigorosidade acerca da Lei, estava deformando o seu sentido original; estava deixando de valorizar a dignidade humana, para escravizar, paralisar o homem.
O Livro do Deuteronômio, ao apresentar o Decálogo, ou seja, o resumo da lei de Deus, destaca a observância do sábado a partir de dois elementos: o religioso e o social. No aspecto social, o mandamento destaca que o sábado é o dia de descanso para o trabalhador: trabalharás seis dias e no sétimo descansarás. E a motivação é a lembrança do tempo da escravidão no Egito, quando não havia pausa para descanso. O aspecto religioso é a lembrança da ação divina, que libertou seu povo da escravidão com mão forte. Embora ambos os aspectos estejam unidos, há a predominância do aspecto social. Já na narrativa do Decálogo no livro do Êxodo, a motivação primeira do Dia do Senhor era a celebração da ação criadora do Deus, a partir da narrativa do Gênesis, a qual afirma que depois de realizar a obra da criação em seis dias, no sétimo o Senhor descansou.
Entretanto, a lei do sábado, perdera sua motivação original de defender a dignidade do homem, e havia se tornado um peso, que o impedia de viver em plenitude. É nesse sentido que entendemos o gesto de Jesus de curar o homem com a mão paralisada. Esta paralisia simboliza a consequência do legalismo religioso de então. Aquele homem dentro da sinagoga indica que ele estava inserido na vivência religiosa, mas sua mão seca revela que sua fé não gerava ações concretas. Ainda mais, ele estava ao chão e marginalizado, por isso Jesus, antes de curá-lo, devolve-lhe a dignidade ao determinar: levante-se e fica aqui no meio. Essa prática libertadora de Jesus provoca a ira das autoridades, que duros de coração, querem matá-Lo.
Jesus não rejeita a lei do sábado, antes, resgata o seu sentido original, de promover a dignidade de cada pessoa humana. Como nos ensina São Paulo, na segunda Carta aos Coríntios, essa dignidade humana é consequência da presença de Deus em cada pessoa, que a torna especial. Somos, pois, vasos de barro carregando um valioso tesouro: a luz do Senhor. E mesmo enfrentando tribulações e dificuldades, mesmo sofrendo as manifestações de nossa fraqueza humana, não somos derrotados, pois é o Senhor que nos fortalece e nos dignifica.
Aprendamos com Jesus a ter o devido discernimento diante da realidade em que vivemos, para conservar o que essencial: a vida e a dignidade humana. E que, envolvidos pela luz divina, deixemos que o Senhor nos cure de toda paralisia, para que possamos colaborar com a promoção da vida plena para todos.