Comentários das Liturgias
18º DOMINGO DO TEMPO COMUM
18º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ex 16,2-4.12-15; Sl 77; Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35
Continuando a meditação do capítulo sexto do Evangelho segundo São João, percebemos o empenho de Jesus em despertar no povo a consciência de que é preciso ir além da satisfação das necessidades materiais e buscar, no encontro profundo com Deus, o sentido para a vida e para a história. O povo, ao perceber que Jesus tinha atravessado o mar, vai ao Seu encontro, mas Ele percebe que seu interesse é simplesmente ganhar o pão material e não a busca de uma nova forma de viver, em comunhão com o Senhor. Diante do questionamento de Jesus acerca de seus reais interesses, o povo recorda o episódio do maná que Deus enviou durante a travessia do deserto. Revela, assim, ter uma fé interesseira, que compreende Deus somente como uma fonte de bens materiais.
O povo não tinha compreendido o verdadeiro sentido do maná. O livro do Êxodo diz que o Senhor fartou o povo de carne e de pão, para que reconhecessem que Ele era o verdadeiro Deus. O pão e a carne eram apenas um sinal, o qual deveria despertar no povo a verdadeira fé, para acolher Deus como o Senhor da história. Recebendo o maná, o povo era chamado a bendizer o Senhor, que o acompanhava na caminhada de libertação, e aprender a confiar em Seu amor divino, que a cada dia concedia o maná necessário. Mas vendo o maná apenas como um auxílio divino para matar a fome, o povo reduziu o relacionamento com Deus a uma busca de favores materiais.
Diante desse sentimento mesquinho com relação a graça de Deus, Jesus convoca o povo a buscar não somente o pão que perece, mas também o pão que permanece até a vida eterna. Além de saciar o corpo, é preciso também alimentar o espírito. E Jesus se oferece como o Pão da vida, que sacia toda sede e toda fome, ou seja, que sacia a necessidade mais profunda que todo ser humano tem: a necessidade de comunhão com Deus. Este pão que não perece é Jesus presente na Eucaristia, o alimento espiritual que desce do céu para ser o sustento em nossa caminhada.
São Paulo exorta os efésios a não viverem como os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada. Isso vale também para nós, que vivemos em uma sociedade na qual impera a cultura do materialismo. Essa cultura interfere na compreensão do ser humano, reduzindo-o ao físico, induzindo as pessoas a satisfazerem somente suas necessidades materiais. Quem se deixa levar por esse materialismo e não cultiva a dimensão espiritual experimenta uma contínua insatisfação, um perene vazio interior, uma fome de sentido para viver. Essas pessoas sentem-se incompletas, pois necessitam do Pão da Vida, mas não reconhecem essa fome espiritual. A prova da infelicidade que o materialismo gera é o crescimento do consumismo, bem como o aumento do uso de drogas, por pessoas que querem anestesiar a consciência da própria insatisfação, mesmo que temporariamente e de forma destrutiva.
Somos chamados, pois, a nos despojar do homem velho, superando essa mentalidade materialista e nos revestir do homem novo, que reconhece a necessidade de uma comunhão profunda com Deus. Cientes de que o ser humano não é só matéria e que, portanto, necessita de alimento espiritual, devemos buscar o Senhor, não somente para alcançarmos auxílios materiais, mas principalmente para permanecer em comunhão com Ele, uma comunhão que começa agora, em cada Eucaristia que celebramos, e que perdurará por toda a eternidade.