Comentários das Liturgias
10º DOMINGO DO TEMPO COMUM
10º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Gn 3,9-15 / Sl 129 / 2Cor 4,13 - 5,1 / Mc 3,20-35
O Evangelho desde domingo apresenta as reações à prática de Jesus de ir ao encontro do povo sofrido, levando a libertação de todos os males. Seus familiares, escandalizados com sua vida de amor ao irmão e de prática da justiça, O acusam de estar fora de si. De Jerusalém chegam mestres da Lei para investigar o que Jesus estava fazendo, os quais apresentam a acusação de que Jesus agia em nome do demônio. Jesus desmascara a inveja e a incoerência de seus acusadores, argumentando que é impossível expulsar demônios em nome do demônio, ou seja, não existe conciliação entre a prática do bem e a ação de satanás. Quem está em comunhão com Deus faz o bem, e quem está contra Deus pratica o mal. O mal não vem de Deus, mas é gerado por quem se comporta como adversário (significado da palavra satanás) do projeto divino, recusando-se a obedecer a Deus, a fazer a Sua vontade.
Esse é o ensinamento do texto de Gênesis, na história da serpente e do fruto da árvore proibida. Deus criou um mundo perfeito, harmônico e sem males, e concedeu ao homem o direito de usufruir de todos os frutos, inclusive da árvore da vida, mas ordenou que ele não comesse o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ou seja, o homem pode desfrutar de toda a criação, mas não pode determinar o bem e o mal, o certo e o errado. O parâmetro do que é o bem, do que é o certo, sempre é a vontade de Deus. Quando o homem decide por conta própria o que é bem e o que é mal, ignorando o projeto divino, gera o sofrimento e a morte, simbolizados pela expulsão do paraíso.
Devemos, pois, ter a convicção de que Deus não é a causa do mal que existe no mundo. O mal é sempre fruto da desobediência humana à vontade divina. Quando o homem ignora a Deus e decide por sua vontade o que é certo ou errado, gera o mal, que atinge a si mesmo, os irmãos e toda a criação. Deus age em sentido contrário, transformando o mal em bem, como nos ensina São Paulo, nos fazendo participar da ressurreição de Cristo. Dessa forma, as tribulações provocadas pelo mal neste mundo são passageiras, e mesmo quando nosso corpo definha, no percurso natural da vida, nossa alma se eleva, até alcançar a plenitude da vida. São Paulo lembra que, quando a tenda em que moramos for destruída, Deus nos acolherá em uma tenda eterna. Essa tenda pode ser entendida como nosso próprio corpo material, mas também todas as instituições humanas e até mesmo este mundo, que pode ser corrompido e destruído pelo mal, mas que será transformado por Deus em Sua glória.
Quando nos colocamos a serviço desse projeto divino, de vida e de salvação, vivemos como membros da família de Jesus. Longe de rejeitar sua mãe e seus parentes próximos, que a Bíblia chama de irmãos, Jesus amplia sua família, incluindo nela todos os que fazem a vontade de Deus. Quando nos deixamos guiar pelo Espírito Santo, fazendo a vontade de Deus, vamos crescendo espiritualmente, nos tornando cada vez mais semelhantes ao próprio Senhor. Vivendo como família de Deus, vamos transformando o mundo a nossa volta, colaborando para que o bem seja vitorioso sobre o mal e a vida se espalhe em todo o mundo, para a glória de Deus.