Comentários das Liturgias
14º DOMINGO DO TEMPO COMUM
14º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ez 2,2-5 / Sl 122 / 2Cor 12,7-10 / Mc 6,1-6
A Palavra de Deus deste domingo convida-nos a meditar sobre as atitudes que devemos ter para acolher em nossa vida a salvação oferecida pelo Senhor. Vencendo a soberba e a dureza de coração que nos levam a rejeitar a graça divina, recebemos com humildade o Senhor que vem a nós na singeleza de Seu amor.
São Marcos relata que, depois de percorrer a região da Galileia pregando e fazendo acontecer o Reino de Deus, Jesus retorna para Nazaré, cidade em que vivera desde a infância. Conforme o costume, juntou-se aos seus conterrâneos para rezar na sinagoga e começou a ensiná-los. Diante da profundidade e sabedoria das Suas palavras, todos ficam admirados, mas não conseguiram reconhecer em Jesus o Salvador prometido, pois conheciam sua origem humilde, seus parentes e sua profissão de carpinteiro. Porque esperavam que o Messias descesse do céu de modo grandioso, seus corações não se abriram para compreender o plano de Deus, que no mistério da encarnação, desceu à terra e se fez igual a nós, para nos salvar. Por causa de seus corações fechados, Jesus não fez ali nenhum milagre, apenas curou doentes. Que milagre Jesus não realizou? O milagre da salvação, da transformação espiritual, que faz de cada pessoa uma nova criatura, numa relação de comunhão e amor com Deus.
Nessa perspectiva, entendemos a missão do profeta Ezequiel, enviado para advertir o povo que tinha rejeitado o Senhor e, por isso, estava enfrentando o sofrimento do exílio na Babilônia. Na missão confiada a Ezequiel podemos perceber alguns motivos que podem nos afastar do caminho de Deus, e rejeitar a graça divina, como o povo de Nazaré fez diante da presença de Jesus: o povo era de cabeça dura, coração de pedra e um bando de rebeldes. Cabeça dura indica a inteligência humana que se fecha para a graça de Deus. Muitas pessoas, quando adquirem uma bagagem de conhecimento, pensam que sabem tudo e que podem viver sem Deus. A inteligência pode gerar a soberba, que leva a rejeitar a graça de Deus. Coração de pedra lembra os sentimentos que cultivamos em nosso coração, mesmo sabendo que são nocivos à nossa salvação, e que nos afastam de Deus. São os sentimentos de inveja, de orgulho, de raiva, que bloqueiam a porta do nosso coração e não permitem a acolhida da graça divina. E finalmente, o bando de rebeldes lembra a atitude de quem quer viver uma liberdade absoluta, sem limites e por isso não aceita caminhar com Deus. São aquelas pessoas que desejam determinar o certo e o errado a partir da conveniência aos seus interesses e rejeitam os valores do Reino de Deus, de partilha, perdão, comunhão, quando não favorecem seu projeto egoísta de vida.
Revelando a humildade como caminho de acolhida da graça divina, São Paulo admite possuir um espinho na carne, uma limitação, que o ajudava a não se deixar dominar pela soberba. Como São Paulo, devemos olhar com humildade para nossa vida e perceber que todos temos um espinho na carne, temos fraquezas, e que isso não nos afasta de Deus. Pelo contrário, quando reconhecemos que somos fracos, então somos fortes, porque nos voltamos para o Senhor, confiando em Seu amor que vem nos trazer a salvação. Ao assumir nossa condição humana na humildade de Jesus Cristo, Deus aproximou-se de nossa fragilidade humana e nos deu a certeza de que não seremos abandonados em nossa fraqueza, pois Ele ver nos libertar em seu amor.