Comentários das Liturgias
17º DOMINGO DO TEMPO COMUM
17º DOMINGO DO TEMPO COMUM
2Rs 4,42-44; Sl 144; Ef 4,1-6; Jo 6,1-15
A liturgia dominical do Ano B inclui a meditação do capítulo 6 do Evangelho segundo São João, no qual encontramos uma catequese sobre a Eucaristia, apresentando-a como Pão da Vida descido do céu, alimento espiritual que é sustento nesta vida e garantia da vida eterna. Para revelar que todos temos necessidade desse alimento espiritual, São João inicia a meditação a partir da realidade humana mais imediata: a necessidade de alimento material, narrando o episódio da partilha dos pães e peixes, quando Jesus saciou a fome multidão, revelando o caminho proposto por Deus para que todos tenham o necessário para viver dignamente.
Este gesto de Jesus, de promover a partilha, revela que a lógica de Deus difere da lógica humana. Enquanto, segundo a mentalidade humana, a fartura é resultado do acúmulo, para Deus a fartura é alcançada com a partilha, pois o pouco com Deus é muito, o muito sem Deus é nada. Já no Antigo Testamento encontramos a revelação dessa lógica divina quando o profeta Eliseu partilhou os vinte pães. O que era tão pouco se multiplicou quando foi partilhado entre todos. A mesma reação tem André que, diante dos cinco pães e dois peixes, exclama: o que é isso para tanta gente? A partilha é fruto da gratuidade, que nos une com Deus, pois nEle tudo é graça. O acúmulo é fruto do egoísmo, que nos fecha em nós mesmos e nos impede de entrar em comunhão com Deus e com os irmãos.
Mas, se a partilha gera a fartura, por que temos dificuldade em partilhar? Porque nossa fé é ainda fraca. Quanto mais confiamos em Deus, mais conseguimos renunciar aos bens materiais, mas quando não confiamos Nele, nos tornamos dependente dos bens materiais. Nossa cultura materialista nos leva a acreditar que a segurança é proporcional aos bens que acumulamos. Diante disso, somente consegue partilhar quem coloca sua segurança no Senhor e não nos bens materiais. Por isso Jesus, quando percebeu que queriam fazê-lo rei, afastou-se da multidão, pois não buscava poder e riqueza.
A afirmação de que a Páscoa estava próxima, indica que esta festa da partilha é sinal da Eucaristia, o memorial que Jesus nos deixou para celebrar a Sua Páscoa, em Sua morte e Ressurreição. Outro aspecto é a revelação da universalidade da partilha. São João nos diz que Jesus estava no outro lado do mar, ou seja, estava em território pagão. Isso mostra que Deus quer saciar a todos e não somente alguns privilegiados. Nesse sentido São Paulo lembra que somos um único corpo, uma única família, da qual Deus é Pai de todos e não somente de alguns escolhidos. Isso é o oposto da nossa cultura atual, que faz distinção entre os que merecem e os que não merecem viver com dignidade. É importante lembrar que se trata de comida, do mínimo necessário para a vida humana, e não de bens supérfluos. Nossa sociedade consumista estimula a produção de bens que visam saciar os desejos de uma minoria, enquanto deixa a maioria sem o mínimo necessário para viver, pois os bens supérfluos são mais lucrativos que o bens necessários à vida.
Para Deus, todos têm direito a viver com dignidade, e a comida é o patamar básico da vida. Deixar um ser humano sem comida é tirar dele a condição de humanidade. Como membros de um único corpo, o Corpo Místico de Cristo, somos convocados a viver a partilha, para que todos vivam com dignidade.