Comentários das Liturgias
Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
Ap 11,19a;12,1-6a.10ab / Sl 44 / 1Cor 15,20-27a / Lc 1,38-56
O dogma da Assunção de Nossa Senhora foi proclamado pelo Papa Pio XII em 1950, confirmando a tradição cultivada desde as primeiras comunidades cristãs, de contemplar Maria participando da glória celeste, junto a seu Filho Jesus. Naquele momento histórico, após a 2ª Guerra Mundial, a humanidade estava mergulhada no pessimismo e no desânimo, e tinha dificuldades para vislumbrar o futuro com esperança. Por isso a Igreja, com o olhar da fé, celebra a participação de Maria na glória divina, reconhecendo na vitória da Mãe de Jesus e Mãe de Deus, o anúncio de que toda a humanidade tem como destino certo a comunhão eterna na graça da Santíssima Trindade. É a afirmação de que a humanidade não está destinada ao fracasso, mas caminha para a plenitude da vida, na comunhão do amor de Deus.
São Paulo anuncia essa plenificação de toda a criação, em sua primeira carta aos Coríntios, ensinando que, em Jesus Cristo Ressuscitado, todos participam da vida nova. A ressurreição do Senhor inaugura um novo tempo na história da humanidade, no qual o bem é vitorioso sobre o mal, pois a vida vence a morte. E Maria, por ser a mãe de Jesus, é a primeira a receber essa vida em plenitude, sendo acolhida na comunhão eterna da Santíssima Trindade.
Sabendo que temos um destino certo, devemos orientar nossa vida para que possamos alcançar essa meta espiritual. Nesse sentido, Maria é para toda a humanidade um modelo de quem consagra totalmente a vida ao plano amoroso de Deus, que quer conceder a vida em plenitude a todos os seus filhos e filhas. O encontro da Mãe de Jesus com a mãe de João Batista, segundo a teologia de São Lucas, indica a comunhão da Nova e da Antiga Aliança na realização do plano salvífico de Deus. Mas também é um modelo de sensibilidade e solidariedade que nos oferece a Mãe do Salvador, ao ir ao encontro de sua prima para oferecer generosamente o cuidado que ela necessitava naquele momento. Por sua vez, o Magnificat, o cântico que Maria entoa, revela o projeto de vida assumido por Nossa Senhora: ser humilde e colaborar para que o Senhor realize sua obra de salvação, que inclui a fraternidade e a ruptura com a opressão.
Assumir como projeto de vida o projeto de Deus, a exemplo de Nossa Senhora, exige um esforço constante para permanecer no caminho do bem e da justiça. É uma luta constante contra o mal, simbolizado no dragão apresentado pelo livro do Apocalipse. A mulher, grávida e perseguida pelo dragão, mas salva pelo poder de Deus, indica a pessoa de Maria, que desde o início de sua missão, enfrentou o mal, mas foi protegida pelo Senhor. É também a figura da Igreja nascente, perseguida pelo Império Romano, por não se submeter ao projeto de opressão e permanecer fiel ao projeto de Jesus. É o símbolo também de cada um de nós, que apesar de nossa fragilidade humana, somos chamados por Deus a enfrentar o mal presente em nosso mundo, com gestos de bondade e de justiça.
A certeza de que todos nós caminhamos para a glória de Deus deve nos fortalecer na luta contra toda espécie de mal. Assim, permanecendo fiel ao projeto de Deus como Maria, mesmo enfrentando a fúria dos dragões de nosso mundo, temos a certeza de que um dia também seremos vitoriosos e estaremos, com Maria, participando da vida em plenitude na glória de Deus.