Comentários das Liturgias

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS
Ap 7,2-4.9-14 / Sl 23 / 1Jo 3,1-3 / Mt 5,1-12a

todosOsSantosA Igreja nos convida a celebrar a festa da comunhão dos Santos, de todos os filhos e filhas de Deus que perseveraram na graça da santidade, aprofundando a união espiritual com Deus. O livro do Apocalipse nos apresenta uma visão teológica da comunhão dos santos, naquela multidão de vestes brancas, oriunda de todos os povos, línguas e nações, que diante do Trono e do Cordeiro, entoam um louvor eterno. Entretanto, há uma associação entre a santidade e o martírio, pois todos lavaram e alvejaram suas vestes, ou seja, sua existência, no sangue do Cordeiro. Como então entender essa associação entre a santidade, sinal de vida plena, e o martírio, que é uma experiência de morte?


Meditar sobre a santidade é meditar sobre vida e morte, sobre viver e morrer. Não se trata de meditar sobre a morte, como se fosse algo real, pois para nós, cristãos, a morte não tem realidade em si mesma, mas é apenas o momento de transformação da nossa existência, quando mergulhamos plenamente no mistério de Deus. Santidade é uma experiência contínua de morrer para o homem velho, para a existência marcada pelo pecado e nascer para o homem novo, para uma vida nova em comunhão com o Senhor, até que se manifeste plenamente a presença de Deus em nós. É nesta perspectiva que entendemos quando Jesus propõe, como bem-aventurança, ser perseguido, ser caluniado, ter fome e sede de justiça, chorar. São realidades difíceis e exigentes, que não se assemelham com o modelo de felicidade e realização proposto pelo mundo. Entretanto, são um caminho de plenificação da nossa humanidade, na medida em que favorecem cada vez mais a libertação perante o pecado e, consequentemente, uma fidelidade mais completa ao Senhor.


A santidade não é uma conquista humana, pois somente Deus é Santo e fonte da santidade. Mas, como Ele respeita nossa liberdade, a santidade também é um processo humano, de aceitação dessa graça divina. O Senhor nos concedeu a santidade pelo batismo, e a nossa vida de cristãos é um processo de acolhida da presença de Deus, de modo que Ele ocupe cada vez mais a nossa existência, afim de que sejamos um com Ele. Assim, a cada momento de nossa existência, Deus vai se revelando em nós, na medida em que aceitamos viver como Seus filhos, como nos ensina São João. Somos filhos de Deus pelo Batismo, mas ainda não se revelou o que realmente somos. Somente na medida em que nos deixarmos conduzir por Deus, numa comunhão plena de vida, vai se revelando Sua presença divina plantada em nosso ser desde a eternidade.


Infelizmente, muitos recusam esse convite para associar-se a Deus em sua caminhada e tentam trilhar seu caminho isolados, separados do amor divino. Isso os leva a isolar-se também dos irmãos e terminam por isolar-se de si mesmos, numa ruptura espiritual, que os aliena de sua própria existência. Passam então a viver na superficialidade, presos a coisas passageiras, as quais nunca trazem a realização plena. Muitos vivem na constante angústia de estarem distantes de sua própria humanidade, e os caminhos que trilham para fugir desta angústia normalmente causam o sofrimento dos outros e a constante infelicidade consigo mesmos. Rejeitar o convite para viver a santidade é rejeitar a vocação primordial, de ser e viver como filho de Deus, de ser santo como o Pai do céu é Santo. Somente assemelhando-nos ao Senhor seremos plenamente humanos e alcançaremos a felicidade verdadeira, que é eterna.

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