Comentários das Liturgias

1º DOMINGO DA QUARESMA

1º DOMINGO DA QUARESMA
Gn 2,7-9; 3,1-7 / Sl 50 / Rm 5,12.17-19 / Mt 4,1-11

desertoNossa caminhada quaresmal, neste Ano A, recorda o sentido da Quaresma nas primeiras comunidades cristãs, quando os catecúmenos se preparavam mais intensamente para receber os sacramentos de iniciação cristã, na festa da Páscoa. É um convite feito também a nós, já batizados, para revigorar a nossa fidelidade batismal e a nossa aliança com Deus. Neste primeiro domingo da Quaresma, a partir do exemplo de Jesus, que venceu as tentações, somos orientados a permanecermos fiéis ao Senhor, dizendo não a tudo o que possa nos afastar de Seu amor.


O pano de fundo dessa meditação é a liberdade que todo ser humano possui, por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. É nesse sentido que entendemos a narrativa do livro do Gênesis, sobre a origem do homem e do mal existente no mundo. Deus criou cada ser humano modelando-o do pó da terra com suas próprias mãos. Isso mostra a fragilidade do homem, feito da terra, ensinando-o que ele não é igual a Deus. Mas também mostra a sua dignidade, por ter sido modelado de forma única e irrepetível por Deus, e dEle ter recebido o sopro da vida. O sopro divino que gera a vida também concede ao homem o dom da liberdade. Mas, quando usa sua liberdade de forma irresponsável, escolhendo não corresponder ao amor divino, o homem comete o pecado, dando origem a todo tipo de mal. O diálogo entre a serpente e a mulher revela que a origem do pecado é a desobediência à vontade de Deus, e que, o motivo é querer ser igual a Deus, determinando o bem e o mal de acordo com sua vontade própria. O resultado do pecado é a percepção da nudez, ou seja, a consciência da fragilidade da existência humana.


São Paulo ensina que o pecado entrou no mundo por essa atitude de desobediência. Todas as vezes que essa atitude se repete, o pecado e, por consequência o mal, se manifesta no mundo. Entretanto, se a desobediência dá origem ao pecado e ao mal, a obediência a Deus é fonte de graça e de salvação. E nós contemplamos essa atitude, em sua plenitude, na vida e na missão de Jesus.


É nessa perspectiva que entendemos o relato sobre as tentações de Jesus, narrado por São Mateus por meio de números e lugares significativos. O deserto é sempre o lugar da dificuldade, mas também do encontro profundo com Deus. Os quarenta dias e quarenta noites indicam a totalidade da vida de Jesus e as três tentações resumem todas as situações em que Jesus foi tentado. Ou seja, Jesus foi tentado durante toda sua vida, de diferentes maneiras, especialmente nas horas difíceis, nas decisões cruciais de sua existência. E o cerne de toda tentação era de Jesus abandonar o projeto de Deus e ser apenas um messias glorioso, ou seja, de utilizar Seu poder e Sua condição divina, não para salvar a humanidade, mas para satisfazer Suas necessidades e realizar Seus interesses humanos.


Os catecúmenos das primeiras comunidades eram chamados a fazer essa opção fundamental, de realizar a vontade de Deus, vencendo a tentação de rejeitar o plano divino e caminhar a partir de sua vontade própria. Sem essa escolha definitiva não era possível tornar-se cristão na graça do batismo. E para nós, já batizados, essa Palavra nos convida a refletir sobre nossas escolhas no cotidiano da vida, se estamos, a exemplo de Jesus, vencendo a tentação de desobedecer a Deus.

 

Liturgias Anteriores

Previous Next
  • 1
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
  • 6
  • 7
  • 8