Comentários das Liturgias
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ez 18,25-28 / Sl 24 / Fl 2,1-11 / Mt 21,28-32
Quando rezamos a oração do Pai Nosso, assumimos o compromisso de que a vontade de Deus seja realizada, assim na terra como no céu. Por isso, a Palavra de Deus deste domingo nos convida a refletir se estamos fazendo, de fato, a vontade de Deus em nossa vida.
O Evangelho apresenta o início das controvérsias de Jesus, após sua entrada triunfal em Jerusalém, com os grupos dirigentes de sua época, revelando a diferença entre o projeto vivido e anunciado por Ele e o projeto defendido pelos poderosos. Essa diversidade que se torna explícita, explica a trama política montada por esses grupos para arquitetar a morte de Jesus na cruz. Logo após entrar na cidade, Jesus expulsa os vendilhões do Templo e denuncia a corrupção dos valores religiosos que transformou a casa de Deus em um antro de ladrões.
Essa atitude incomodou os sumos sacerdotes e anciãos do povo, os quais constituíam a elite religiosa e política do povo judeu, e que controlavam o Templo. Questionado por eles sobre quem dera autoridade para ter aquelas atitudes, Jesus os questiona sobre a autoridade da prática de João Batista, revelando que eles não aceitaram o convite do profeta para a conversão. Esse é o sentido da parábola dos dois filhos: o filho que rejeita o pedido do pai, mas se arrepende e o realiza, simboliza os publicanos e prostitutas, que se converteram diante da pregação de João Batista; já o filho que responde afirmativamente ao pai, mas não realiza seu pedido representa a elite social, que proclama com palavras que é fiel a Deus, mas na prática não realiza sua vontade. Assim, em primeiro lugar, percebemos que fazer a vontade de Deus exige gestos concretos e não apenas palavras.
Outro aspecto é que a vontade de Deus é sempre correta e gera a vida. O mal, a injustiça, a violência que existem no mundo são frutos do pecado humano e das estruturas sociais do pecado, mas não podem ser atribuídos ao Senhor. É incorreto afirmar, diante da maldade e da injustiça, que é a vontade de Deus ou que Deus quis assim. É o que anuncia Ezequiel ao povo exilado na Babilônia, que estava questionando a ação de Deus. O profeta mostra que o exílio não era a vontade de Deus, mas resultado da infidelidade do povo à Aliança e ao projeto divino de salvação. A vontade de Deus é que o povo se converta e assim possa encontrar o caminho da libertação.
Mas, lembremos que fazer a vontade de Deus nem sempre é fácil. Por isso a Carta aos Filipenses convida a termos as mesmas atitudes de Cristo, especialmente a humildade que Deus revelou ao assumir a nossa condição humana e, ainda mais, oferecendo a vida na cruz. A morte de Jesus na cruz não foi a realização da vontade de Deus, mas resultado da trama dos poderosos de sua época. Jesus fez a vontade do Pai ao permanecer coerente a tudo o que ensinou e praticou. No Horto das Oliveiras Jesus poderia ter decidido fugir e salvar sua vida, mas escolher permanecer fiel à justiça da Reino, enfrentando a cruz.
Assim, para sermos fiéis a vontade de Deus precisamos crer que ela é sempre fonte de vida e salvação. Porém, conscientes de que nem sempre é fácil de ser cumprida, e muitas vezes exige renúncias e sacrifícios, devemos buscar no Senhor a força para fazermos a Sua vontade e não a nossa.