Comentários das Liturgias

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Eclo 27,33 - 28,9 / Sl 102 / Rm 14,7-9 / Mt 18,21-35

reconciliacao e perdaoUm grande desafio nos relacionamentos humanos é a prática do perdão. Por isso Jesus, continuando sua exortação sobre a vida em comunidade, ensina, com sua resposta a Pedro, que devemos perdoar sempre, para assim alcançarmos o perdão divino. O salmo 102 recorda que Deus é bondoso e compassivo e perdoa toda culpa, pois Seu amor é tão grande quanto a distância entre os céus e a terra; Ele não nos pune na proporção de nossas faltas, pois quer salvar a nossa vida.


O perdão é fundamental para a experiência da paz interior, até mesmo para aqueles que não tem fé. Desse modo, pode ser compreendido em dois aspectos: humano e teológico. No aspecto humano, nos recorda o Eclesiástico que o rancor e a mágoa são coisas detestáveis e, até mesmo aquele que não tem fé, procura dominá-las. É a sabedoria divina revelando que nenhum ser humano pode ser feliz se alimentar mágoas e rancores, pois estas são como um espinheiro que sangra continuamente o coração; são como um cão raivoso que devora as entranhas.


Mas, se o perdão é necessário para alcançar a felicidade, porque tantas pessoas insistem em guardar mágoas e rancores. Em primeiro lugar porque entendem de modo errôneo que perdoar significa concordar com o mal sofrido, numa atitude de passividade. De forma alguma o perdão pode ser associado com a concordância com a prática do mal. Diante do mal praticado pelo irmão devemos ter uma atitude ativa, seja de propor a correção fraterna, seja de buscar a justiça humana, ou então entregar à justiça divina quando aquela não for capaz de saná-lo.


Outro aspecto que impede o perdão é o orgulho, pois quando sofremos o mal, sentimo-nos perdedores diante do outro, e perdoar parece uma manifestação de fraqueza. Porém, precisamos ter claro que quem pratica o mal jamais é um vencedor, e perdoar é uma atitude magnânima, que revela uma profunda força interior e uma grandeza de coração. Além disso, muitos entendem de forma equivocada que perdoar significa esquecer o mal sofrido. Não conseguimos esquecer os sofrimentos vivenciados, pois tudo faz parte de nossa memória histórica, que constitui nossa existência e que carregamos conosco. Assim, perdoar não é esquecer o mal que sofremos, mas sim, conseguir lembrar do que experienciamos sem sofrer.


Além desse aspecto humano, temos também a dimensão teológica do perdão, determinada pela nossa fé em Deus. O Eclesiástico nos recorda que não é possível alcançar a cura do nosso coração se guardarmos raiva contra o irmão, e também não podemos pedir perdão a Deus se não perdoarmos nosso irmão. Quando rezamos o Pai Nosso, pedimos para sermos perdoados na mesma medida em que perdoamos o irmão. Isso não significa que nossas atitudes determinam a ação de Deus. O Senhor perdoa sempre, mas, quando negamos o perdão ao irmão, nosso coração se fecha também para o amor divino, pois num coração que guarda mágoas e ressentimentos, não há espaço para o amor. Além disso, por mais que um irmão nos tenha feito o mal, não é superior a todos os pecados que cometemos contra Deus. Assim, se queremos o perdão divino, devemos ter um coração compassivo para perdoar o irmão. É o que ensina Jesus, na parábola do empregado que alcançou o perdão da grande dívida que tinha com seu patrão, mas não foi capaz de perdoar a pequena dívida de seu companheiro. A prática do perdão nos faz, como ensina São Paulo, pertencer ao Senhor.

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