Comentários das Liturgias

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Zc 9,9-10 / Sl 144 / Rm 8,9.11-13 / Mt 11,25-30

jesusCoracao 14oDomingoComum anoCA liturgia deste domingo convida-nos a refletir sobre duas virtudes cristãs: humildade e mansidão. Humildade vem do latim humilitas, cujo sentido está ligado a humus, ou seja, é uma referência ao solo. Entre os significados utilizados, podemos encontrar aspectos negativos, como fraqueza, impotência, submissão, e positivos como modéstia, simplicidade, sobriedade. Mansidão é sinônimo de brandura e serenidade, mas muitas vezes é usado com a conotação negativa de apatia, incapacidade de ação. Ao mesmo tempo que tais virtudes são pouco valorizadas e até menosprezadas na cultura hodierna por indicar fraqueza, falta de competitividade, o seu oposto causa indignação e medo, pois atemoriza-nos viver nessa realidade na qual as pessoas vivem sob constante embate, tendendo a aniquilar o outro.


Inseridos nessa realidade, somos convidados a imitar Jesus, que se apresenta como manso e humilde de coração. Jesus elogia os pequenos e pobres que, sendo excluídos pelas estruturas sociais e culturais da época, reconhecem nEle o Salvador prometido, que viera para solidarizar-se com os humildes. Esta atitude de acolhida contrapõe-se ao comportamento dos habitantes de Corazim, Betaida e Cafarnaum, que vendo os sinais realizados por Jesus não acolhem Seu projeto de salvação. Igualmente aos que o acusavam de beberrão e comilão por fazer refeição com os pecadores, e até mesmo a João Batista, que manda seus discípulos questionarem se Jesus era mesmo o Messias. Dentro da dinâmica do seu Evangelho, Mateus apresenta a incompreensão que Jesus sofreu e a rejeição ao projeto do Reino. Mas, àqueles que abrem seu coração para acolhê-lO, Jesus convida-os a entregar seus fardos, para que Ele os alivie e restaure suas forças. Além disso, Jesus convida a imitar Suas atitudes de humildade e mansidão, como caminho de verdadeira humanização de si mesmo e do mundo.


Essas palavras de Jesus concretizam a profecia de Zacarias, anunciando a chegada de um rei justo, que vem para destruir os instrumentos de guerra e implantar a paz. Este trecho faz parte do chamado “Deutero-Zacarias”, redigido no período do pós-exílio, quando o povo estava subjugado ao domínio helênico. A profecia possui um caráter marcadamente messiânico, que nasce da experiência de sofrimento que o povo enfrentava no contexto de exploração estrangeira. Entretanto, diferencia-se do messianismo típico da época, ao anunciar a libertação por um caminho de paz e não de guerra. Ainda mais, caracteriza o salvador pela simplicidade, ao apresentá-lo montado num jumento, típico animal de trabalho, e não num carro ou cavalo de guerra. Nesse rei justo e salvador contemplamos a figura do próprio Cristo, que vem instaurar o Reino de Deus pelo caminho da paz e da humildade.


Em sua Carta aos Romanos, São Paulo reflete sobre a existência humana sob dupla perspectiva: viver na carne ou no Espírito. A vida segundo a carne indica uma existência sem Deus, fundamentada somente nas capacidades e possibilidades humanas. Já a vida no Espírito é a abertura para Deus, buscando viver em comunhão com Ele. A partir da proposta de Jesus, compreendemos que viver na carne é deixar-se dominar pelo espírito de competição e de opressão que existe em nossa sociedade, na qual as pessoas são incitadas a dominar e impor-se sobre os demais. Viver no Espírito é ser manso e humilde de coração a exemplo de Jesus, assumindo a própria identidade, com qualidades e limitações, sem necessidade de subjugar o outro para se autoafirmar. Na humildade e mansidão, manifestamos nossa verdadeira humanidade, a semelhança do nosso criador e também humanizamos o mundo a nossa volta.

 

Liturgias Anteriores

Previous Next
  • 1
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
  • 6
  • 7
  • 8